dezembro 03, 2011

Carta ao senhor Tempo

Olá,

sei que faz tempo que não te procuro, embora você se faça presente em cada minuto que se passa em mim.
Também sei que prometi não lhe rogar pragas, nem tampouco ajoelhar-me aos seus pés implorando favores.
Mas há tanto está presente comigo que conhece até o avesso de mim que escondo,
e peço desculpa pelas suplicas, pelo desespero,
volte.

Quero de novo aquele dia em que tocou uma música que tocou minha alma e me desvendou por uns instantes,
você bem que tentou me dizer o quão importante eram aqueles instantes, e eu não te escutei.
Não mexa a cabeça com esse ar de superioridade, bem que te avisei, sei que está pensando isso.

Também quero de novo tudo aquilo que esqueci e que quando aconteceram achei que era uma dessas coisas que ficam pra sempre marcadas,

e não venha me dizer que se esqueci é porque não era importante,
sou eu aqui quem decide o que é ou não importante.

Sei que é difícil, agora que estamos entrando no verão, mas por favor garanta-me um fim de tarde ameno, sem chuva, sem sol, sem nada,
eu arranjo um lençol velho, e ficarei deitada na grama te vendo passar, de um lado pro outro, debochando de mim.


Não ria de mim pensando assim no quão patética me tornei,
também te acho patético desfilando por ai se sentindo dono de tudo,
me desculpe,
volte.

sr., sei que andei distante enquanto você estava bem ali do meu lado direito e eu sequer te olhei nos olhos pra te ver quieto, calmo e constante,
como há muito você anda

Procurei por ai algo pra ler que me fizesse esquecer de você,
de forma que o dia virasse noite sem que eu nem percebesse,
mas os segundos passaram tão lentos quanto você desejou,
e perdi de novo mais uma oportunidade de me dar bem com você.

Estou sim descumprindo minhas promessas com você,
mas me entenda, te preciso ao meu lado,
ao meu favor, principalmente ao meu alcance.
E não venha me falar que é uma bobagem essa minha mania de querer controlar tudo,

bobagem é você achar que não, enquanto caminha distraído sem ter onde ir.

Também estou sem repouso,
então volte, tempo,
sem pausa pro adeus.

à nós, pretensiosos,
fé e paciência,
que ainda reste tempo.

outubro 09, 2011

Outra hora em outro lugar.

Dessas histórias que começam com uma moça, ou um rapaz,
não faz diferença, subindo uma ladeira, aquele ar de quem não pertence a lugar algum.
Mas não, é dessas histórias de uma moça ou um rapaz descendo uma rua que acaba lá no centro,
que se perde na multidão,
mas não, ela é a multidão.
Ainda não, a história não tem nenhum caminho descendo, nem um esforço subindo,
é a história de uma moça e de um rapaz andando na chuva, enquanto as pessoas correm para lugares cobertos, as aves se escondem em lugares que nunca vi,
e por um instante a cidade perde aquele aroma de gente que sofre.
Essa não é a história,
essa moça, esse rapaz, eles não estão andando, eles não estão na rua,
não tem caminhos, não tem chuva;

Ela sente saudade,
já ela caminha vazia,
essa é a história,
música, que não pertence àquele rapaz que sobe e desce e se molha e sofre.

Tem um jazz baixinho no fundo,
que se mistura com as vozes, com as risadas, com o piscar de olhos de alguém ao lado,
um blues, que atrapalha a leitura,
que traz alguma lembrança de algo que não viveu.
e se tivesse vivido, doeria tanto.
Mas não doi, assim como um tango não é convite a dançar,
nem tampouco o samba é convite a alegria.

Penso em pagar a conta, e sair,
mas a chuva cai lá fora,
e saindo, essa também será a história daquele rapaz subindo a ladeira,
e ela não está na história dele.
Seus olhos não se encontraram, talvez nunca se encontrem.
Seus passos, descompasso,
E de que outro forma seria? Eles não concordam sobre as coisas grandes de vida,
só compartilham a pressa,
essa pressa de vida, essa sede de ser,
essa busca desenfreada pelo que mesmo?

Esboço num papel um desenho, acompanhado de uns versos,
mais um café, um homem entra, sem importância (qualquer),
uma voz bonita, os dedos no ajuste certo para as cordas,
ela gosta da música, de sentir o que ela não sente.

Tomo para mim as coisas que não vivi, é claro,
tenho pressa, porque não vou viver tudo,
ela não vai viver tudo,
quer dizer, quem vive tudo?

Mas não, esse não era o pensamento na minha cabeça, dela, naquela hora não,
que a vida não tinha vez as três da tarde do domingo chuvoso,
primavera? sim, já começou a primavera,
revolução da alma, tempo, tempo tempo.

-oi, me empresta o isqueiro? claro,claro.
Ver a chuva na copa da árvore, tem sua beleza, não, não me incomoda ser interrompida,
não por ela, mas ela ainda não estava lá, e nem eu sabia que uma hora ela estaria lá.
Quer dizer, não estaria, nunca esteve, foi em outro lugar, em outro dia, outro tempo,
se quer era dia, verão era,
porque era um desses tempos em que o corpo nosso se torna receptivo ao ser do outro,
então podia ser inverno,
e é claro que isso não tem a menor importância,
porque houve depois outros invernos, outros verões, falsas primaveras,
e outono de reencontro.
Não eram reencontros,
eram encontros com o novo, sentindo o antigo, doído,
aquilo que move a busca que não se buscava mais.

mas àquela tarde ela ainda não havia chegado,
e meu andar continuava vazio,
e ela sentia saudade,
e aquele rapaz tinha terminado sua caminhada,
o blues cessara, antes, o primeiro,
já não era tempo de alma,

era tempo de, não, não é sobre isso a história.

agosto 13, 2011

Essa é uma daquelas horas em que gostaria de saber desenhar,
porque as palavras me faltam.
Que fosse música, escultura, pintura, um grito,
desfazer-me do martírio, desfazer-me.

O coração na mão,
sangrando, sem forças,
mas o pulso ainda pulsa.
o impulso.

Amorfo e mofo.
A mente se confunde.
Só o espírito, manifesta.

Manifesto sem sentido,
a esmo, eu sigo.
Há de ter um porto,
desses que sempre acreditei,
sem desejar.

Esse que encontrei,
e onde afundo.

Esse que ancorei,
hoje sou âncora.

O peso no corpo, é memória,
o peso na mente, peso morto.

As culpas, foram tantas,
nem desculpa cabe mais,
o perdão é banal,
café quente de toda manhã,

alimento da gastrite,
úlcera na alma.

Dor que cicatriza, não fere mais: perdão.

Esperei, acreditei, mais uma mentira.

Mais uma,
aditiva,
mais uma dose, mais um perdão,
mais uma briga, mais uma ferida,
mais um dia, um dia a menos.


Outono que venha,
Outro ano, que venha.

Além,
que sobre fé e paciência
à nos, presentes com amor.

fevereiro 14, 2011

Que seja.

"Sei que me arrisco a te chocar, te ferir, te agredir. Mas eu nunca quis ser gostado por aquilo que não sou ou aparento ser" CFA

O elogio se esconde em miudezas,
um beijo reconhecendo uma ação,
um bilhete,
uma escolha de presente,
uma frase bonita fora de contexto.
uma supresa pra meses depois.

A crítica não, essa vem escancarada,
e nos enfia um tapa na cara,
que é pra ferir o orgulho, não o corpo.

As palavras doces são tão facilmente esquecidas,
já o desapontamento persegue.
Não se esquece a palavra dita quando alguém lhe enfia o dedo na cara e diz que não gostou, que não quer, que deve ser de outro jeito.

E de que jeito continuamos nossas torturas?
Trocamos beijos, trocamos afetos, trocamos carinho,
trocamos o melhor da gente,
pra colocar a cabeça de noite no travesseiro e só lembrar da aspereza, da dor minuciosa e nos dilaceramos amiúde.


De pouco adianta limpar a alma se ela continuar em branco,
a cor faz falta, qualquer cor que seja, flicts que seja, uma cor feia que seja.

mas que seja.

Atraiçôo minhas velhas convicções procurando o ponto certo de me instalar.
Renovo minha morais pra entender o moralismo que sinto em mim.

De pouco adianta uma mente cheia de idéias, uma alma cheia de esperança, um coração repleto de pureza,
se eu não sei amar.

Não aprendi,
e o tempo escorre pelos meus dedos,
colocando no meu caminho, feito pedras,
minhas falhas;

Freqüentemente tropeço,
repouso no tombo procurando o que me prende ao chão,
ainda que longe dos abismos de mim.

De qualquer forma e de que forma seja,
prossigo, prosseguirei.
Um dia tomo jeito,
e aprendo, seja como for,
que seja sempre amor.


janeiro 10, 2011

Quero a cidade que nunca dorme.
Quero a chuva que molha e não adoece.
Quero o sol brilhando o cabelo e reluzindo o olhar.
Quero o por-do-sol.
Quero o pudor guardado à sete chaves na gaveta.
Quero o sorriso sincero, e gargalhada que dói na barriga.
Quero o trovão para que aperte minha mão.
Quero a musica pra cantar bem alto, gritado.
Quero a fome.
Quero sacia-la.
Quero a sede e quero a água.
Quebro abraço sem medo de soltar.
Quero não soltar.
Quero o som do violão e do mar batendo nas pedras.
Quero acordar as onze e dormir as dez. da manhã.
Quero brigar pelo ultimo pedaço de pizza.
Quero pintar as paredes com poesia pura.
Quero a felicidade estampada.
Quero a vontade escancarada.
Quero a paz do silencio.
Quero ventos no cabelo.
Quero mãos dadas na beira da praia.
Quero dar a mão pra subir na montanha.
Quero tua voz e teu sono.
Quero tua roupa amassada, tua cara lavada.
Quero teu cansaço, seu abraço.
Quero tua culpa, teu perdão.
Quero tua pele nua.
Quero tua verdade crua.

janeiro 04, 2011

Me doeu todos os dias o medo de que percebesse.
Que se conseguiria passar uma semana sem mim,
passaria quanto tempo fosse.
Saber que encontraria com quem rir, com quem beber, com quem conversar.
Sei que só sente em paz nos meus braços,
mas já sentiu isso com outros,
outros que nem tem mais importância alguma,
então talvez eu seja você só por agora.
Que você encontrará um outro alguém que te de paz,
encontrará alguém que te de a mão quando precisar,
que te tire dos seus poços.

Imaginar tua felicidade longe de mim me doi todos os dias, feito uma bofetada.
Você se envaidece dos meus sentimentos feios, mas não posso te culpar.
Se assim sou egoísta, que eu aceite também o que tiver a me mostrar.

Não te culpo também por sentir pelas palavras que falo,
por não saber dosar as minhas nem as tuas verdades.
Dou-me a você na minha forma mais pura de sincera simplicidade,
mas entenda se eu chorar,
se eu me esquivar,
se eu preferir um grito a uma conversa
se eu ferir,
se eu mentir, omitir, reclinar.
Entenda que eu escondo meus medos, minhas dores, meus receios, meu puritanismo pra que você ainda se sinta plena ao meu lado.

Eu sou inteira e infinatamente sua,
então aceite meus monstros.
Que ao abrir todas as portas e quebrar todas as paredes,
você também terá de conviver com o que tem de feio dentro de mim.
Que existe, se esconde atrás de flores, mas é real.

Preciso que me queira inteira também.
Que aprenda a hora de me abraçar, e a de brigar comigo.

À nós, presentes com amor,
fé e paciência.

Te amo.