Em uma tarde vazia...

Meu bem,
desculpe a covardia por não olhar no fundo dos teus olhos e te dizer tudo que venho aqui dizer.
Há tempos não repouso minha cabeça no travesseiro e durmo em paz,
Há tempos o despertar não me é convidativo para um dia bom.
e nem o seu bom dia trás a alegria de mais um dia;
Há tempos ando longe, ando quieta, ando confusa, perdida e egoísta.
Há tempos meu afago não é mais que um gesto repetitivo.

Pois é, faz tempo que nossos olhos se perderam, e faz tempo que nossas mãos não se encontram.

Mas o que eu queria mesmo te dizer, covardemente te dizer,
é que daqui pra frente o 'há tempos' ficará pra trás.
Daqui pra frente seremos juntas;
Daqui pra frente seremos duas e seremos uma, ao mesmo tempo.
Daqui pra frente o olhar vai ser compreensivo, os gestos serão convidativos;
Daqui pra frente vai ser diferente,
Daqui pra frente redescobriremos a paz que deixamos ir embora.

Os tempos serão outros, os espaços serão outros,
mas o amor ainda é o mesmo.

A nós, presentes com amor,
sempre presentes em nós.

Deixei todas as janelas abertas,
mas não bate vento, nem bate sol.
O ar aqui ta parado, ta pesado, ta sufocando.
E eu to sem folego pra ir pra fora tentar respirar.
Meu corpo ta quieto, parado, jogado.
Não quer saber de sambar
nem sozinho, nem na companhia de mais ninguém.
Deixei as portas todas abertas,
pra que você entrasse sem nem pedir licença,
deixei um aviso na porta,
uma mensagem, um pedido, um grito calado sofrido.
E de tanto ficar aqui dentro,
e de tanto esperar o que nunca veio,
lembrei do que sempre cantei por ai:
A gente vem ao mundo pra ser sozinho.

Então, não venha.
Não mais.
"Quando eu sai a tua vida
Bati a porta
Saí morrendo de medo do desejo
Do desejo de ficar"

Foi tão bonito você me emprestar a vida assim
Ver que eu não tinha saída e seguir por onde eu vim
Como eu adoro você
Quando você me sorri
Quando sabemos que aqui
Termina nossa viagem


http://www.youtube.com/watch?v=ocnPIQK_kBQ

Que o sol a brilhar nas manhãs chuvosas tenha força para radiar os corações cinzas.

e as manhãs tão cada vez mais cinzas,
feito nosso coração,
que de tanto querer se sufocou,
vai entender,
o amor tem dessas coisas...

Dessas coisas de ter começo, meio e fim
que a gente tanto tenta negar.

porque o silêncio e a imobilidade foram dois dos jeitos menos dolorosos que encontrei,
 naquele tempo, para ocupar meus dias.
porque, meu bem, não vou chorar, talvez nem sofra,
fique feliz com a minha indiferença,
porque se não seria o ódio,
e se inevitavelmente for o fim,  quem vai ficar pra assoprar o pó de tanto sentimento velho?
quem vai recolher os cacos, se desfazer do que já perdeu o sentido há tanto tempo?
quem vai ficar pra chorar? pra ter medo?
Você não vai, tampouco eu que há tanto tempo quero lembrar porque ainda não sai do lugar.

Deixo-te livre para sentir minha falta, se é que faço falta.

Queria um poeta bem tristinho,
pra contar a dor que tenho
e saber que não é só minha.

Queria a palavra torta,
que tá travada no meu corpo,
mas que antes já foi dita,
repetida,
e superada.

Queria a dor fininha,
que arde,sufoca e passa.
Mas foi me dada essa dor pesada,

De repente tudo se esvai.
O que era amor se transforma em amizade,
que lentamente se transforma em indiferença.

O outro, que antes era parte de mim,
agora não é parte, não é caminho,
não é destino.

Novas portas se abrem,
outro mobília, outra visão,
outra vista.

Talvez seja a lua em aquário,
é o que me disseram por ai.
Seja como for,
é hora de decisões,
que saibamos lidar com elas,
com as consequências delas
e tudo mais que vier depois.

A nós, outrora presentes com amor,
que reste o que restou.

Faz tempo que ando com vontade de criar...
Criar asas
Criar coragem e ir pra luta
Criar filhos, ou filhas.
Talvez criar juízo.

Na duvida, coloquei papel e aquarela em cima da mesa.

Não é que dói demais,
é só que dói o tempo todo.
É que as vozes não alcançam,
os braços não acalmam,
não tem conforto, não tem vírgula nem ponto
nessa dor, e que dor será?

O que eu quero é gritar sem voz,
é correr sem ter caminho,
ter  pressa sem ter hora, compromisso,
porque essa dor tá consumindo

Ta engolindo as certezas,
ta dando vazão pros medos bobos
que eu já ri tanto,
e que agora riem de mim.

Tá transformando cores,
tá estragando amores,
tá murchando flores.

Tá doendo sem parar.