julho 30, 2007

29/07/2007
Um fim de domingo frio e o fim de outras coisas...

Ela ainda estava procurando seus sapatos quando o telefone tocou e ele disse que não iria encontrá-la naquela noite, nem na noite seguinte.
Acomodou-se na sala, sentada em uma almofada, bebia um chá muito quente e remexeu na sua velha caixinha verde e desbotada, procurava algo dela que a fizesse lembrar-se dos outros.
Tentou encontrar uma explicação para aquele fim tão triste, pensava que era por culpa da distância e do tempo, mas isso não explicava todos aqueles abraços cheios de dúvida, e não explicava todos aqueles momentos juntos, em que só havia a ausência dos dois.
Sentia que nos abraços dele, os braços não estavam certos, não estavam como deveriam estar, e que a respiração dos dois se extinguiam, ao invés de se completarem, será que foi isso que fez ele pensar que aqueles corpos não se pertenciam?
Mas deve haver alguma outra explicação.
Adormeceu escutando uma canção triste, e sonhou que estava perdida, num mundo estranho e psicodélico, e que entre todas aquelas flores e cores as pessoas apareciam apenas em partes: os olhos quase-verdes, a boca meio-ressecada, o coração semi-aberto.
E tentando remontar aqueles corpos, via que aquilo não havia sentido algum, como se os braços não estivessem no lugar, ou que os olhos só se mantinham abertos quando não havia um coração.
Acordou sem sentir muita coisa, além do frio e da certeza de que valia continuar.
Se encontraram alguns dias depois, abraçaram-se e ela sentiu, naquele último e atrasado momento, que eles jamais estiveram juntos, não para ela.

julho 05, 2007

O palhaço do circo sem futuro


Andava procurando a próxima parada, se reinventava em casa esquina. Não podia com tantas mudanças, mas era disso que sobrevivia.
E tinha mesmo só uma sobrevida.
Guardava no bolso da calça xadrez, as lembranças das noites em que o pai chegava bêbado e vinha carregado por algum bom vizinho.
Guardava no bolso da jaqueta o gosto ruim de ter uma mãe submissa que se suicidou, quando viu que o casamento estava para acabar.
Na carteira, a foto dos irmãos que nunca conheceu, e nem queria.


Era necessário apenas um copo de Rum (ou cuba...) para se despir dos traumas da infância.
Então vestia sua mascara, pintava o rosto e era, todos os dias, o grande palhaço da vida real, o pierrot sem amante, o "clown down" de um show que só acabava no próximo copo de Rum.
Mas as vezes o Rum acabava antes do show,
as vezes acabava antes do bar, do mês, da dor.
E ainda assim as pessoas aplaudiam.