março 28, 2009

a deus dará

Algo como um livro na prateleira,
que segue queimando entre dedos,
quando um olhar longíquo, que avistaria outro terra se, na verdade, não estivesse pensando apenas no absoluto do nada.
Que você era assim,
um inteiro, um absoluto,
e sua manifestação era essa: de olhar fundo, não nos olhos, olhar lá na poeira da alma, pra depois partir no ônibus das sete sem nem um beijo no rosto.
Li e reli tantos livros de de jardinagem pra dizer: olha,você é assim uma orquídea,
não rosa, não espinho, não você.
E você não era nada além de alguem que deixava queimar entre os dedos uma bituca de cigarro.
Queria, queria mesmo te dizer sobre você todas as coisas que recolhi enquanto te observava de longe.
Você tem as costas curvas, como quem cansou de andar,
Seu sorriso é falso, maneira exata de coexistir com todos os outros.
Seus olhos são secos e opacos, mas nem sei dizer se são azuis ou castanhos.
Que isso não tem a menor importância, eu sei,
mas te enchergo como quem avistou a terra distante e deu as costas,
digo, se ali tinha um lindo laguinho ou frutos gostosos,
eu não sei, mudei de rumo antes de ancorar meu barquinho por perto.
Porque barquinho é coisa assim, você sabe,
não é navio que afunda, nem veleiro que depende de vento,
é coisa do mundo, que se coloca na água corrente e deixa fluir.
Barquinho de papel, de infância, que vai correnteza abaixo e você faz outro,
e barquinho vai ser sempre rascunho.
Só queria te dizer que meu barquinho é de ninféias, que precisa de água, que precisa de fluir,
que se você é terra firme, e você é, não tem chuva que faça ser feliz.