maio 17, 2007

Bárbaras memórias póstumas

Fitei seus olhos de um inesperado azul para encontrar em você algo que talvez falte em mim: a alma exposta; e foi por você ser assim tão claro no que és que decidi me perder em abraços que meus já cansados braços precisavam encontrar.

- Bárbara, ele dizia com aquela voz macia que arranhava tudo-tudo dentro de mim, você não precisa ir embora?
- Eu já vou, e assim eu respondia como quem sente que é tarde e a tarde é a hora de entender como é que tudo se faz, você se importa de ir comigo até aquela fila?

Fitou meus olhos que cantava uma velha cantiga conhecida, que não falava de amor, e no exato momento em que meus olhos se fecharam para sufocar as lágrimas que corriam pelas veias, até tocar a minha alma, que gritava desesperadamente tentando se despir, eu senti sua mão tentando me alcançar. Ao abrir meus olhos, nossos olhos se cruzaram, e tantos outros olhares, dores, rancores, penas e amores se cruzaram também com os meus olhos, que olhavam o sangue no chão e não entendiam.
Então, a alma se calou, as veias lentamente pararam de pulsar, e a cantiga outrora cantada já não era mais lembrada, apesar de tanto esforço, os olhos deixaram de ver, o coração parou de sentir, dos lábios algo como “eu te amo” parecia querer ser dito, e nos ouvidos algo como “adeus” parecia ser escutado.