Sentiu na boca uma vontade amarga de mastigar pimenta ou beber whisky. Pensou numa porção de coisas antes de se levantar, afinal amanhã é quinta-feira e emoção demais, ou ressaca, atrapalharia o continuar.
Acendeu o cigarro, e segurou com as pontas dos dedos; não tinha charme algum naquela mão enrugada, mas havia certa clareza na fumaça que saia de sua boca vermelha e sem rumo.
Um pouco de música, de whisky e ausência de roupas ou contato com o superficial. Deitou no chão gelado de quase novembro, e viu-se sozinha como em todas as outras vezes.
E se o telefone tocasse, ou ele estivesse no bar? Talvez o jornaleiro dissesse se ele ainda vem todas as manhãs. E conseguiria sair dali!?
O cigarro apagou, acabou ou só se tornou mais um no cinzeiro. O whisky havia acabado, completou a parte vazia do copo com conhaque. Ela não gostava de conhaque, e o whisky gostava tanto dela... As coisas começavam a ficar confusas.
Abriu a janela para ver a chuva que caia, limpando o céu novamente, debruçou-se com os seios a mostra, sem se preocupar com os vizinhos que, provavelmente, estariam vendo a novela, o futebol ou a amante...
Estaria ele com a amante ou a amante seria ela?