abril 05, 2007

Clarissa, o nome que ficou no meu espelho durante tanto tempo.

Era teu nome, com a tua cor de batom. Que letra linda você tem, Clarissa! Mas porque escrevestes coisas tão tristes e medonhas?
Usou palavras fortes para dizer que estava indo, e atrasada.
“Adeus, nosso amor não deu certo, e nunca vai dar. Guarde lembranças, Clarissa”.
Guardarei tuas palavras no espelho (permita-me admira-la pela criatividade), guardarei seu cheiro no edredom e seu batom esquecido (ou deixado?) sobre a pia.
Por um instante me ocorre sua imagem (ah, como é bela!) segurando o batom em frente às paredes brancas, recém-pintadas. Eu compreenderia se você tivesse amargado também as minhas paredes, com palavras ainda mais doloridas.
Clarissa, suas palavras estão tão frescas e intensas, e o reflexo no espelho é tão vazio. Eu entendo quando você diz que não deu certo e que nunca daria. Ah, você foi muito leviana, e essas palavras frias ecoam na minha cabeça sem parar.
Adeus, adeus. Eu queria ter dito adeus também. Acredite, eu não imploraria para você ficar.
Você foi injusta, Clarissa. Eu também tinha sonhos. Queria ir a Paris, praticar ioga, visitar velhos parentes, aprender alemão, jogar bilhar no boteco, conhecer o zoológico, ir mais ao cinema. Eu queria tanta coisa, mas você era, naquele momento, a única pessoa com quem eu queria estar. Eu te permiti ter amigos, te permiti ter o próprio mundo, o próprio gosto, te deixei tanta coisa, e você só me deixou a mim mesmo. Clarissa, você foi embora.
Entendo que é para sempre, que foi o ultimo adeus (ah, quantas brigas nossas acabaram em “último adeus”), mas sinto aqui dentro de mim, naquele ponto machucado que a agonia se instala, que você vai voltar, e mais bonita, e mais alegre, e mais cheia de vida, e ainda mais sozinha do que as outras vezes.
Você se lembra que pedi para não dilacerar meu coração? Não me importo de estar sofrendo novamente pelo que você me fez, mas me lembro tão claramente do seu sorriso, Clarissa, você me disse palavras tão bonitas e suaves. Sua voz adocicada me toma a mente de forma tão intensa, que posso te sentir aqui comigo, acariciando meus cabelos louros, apertando minha mão.
Ah, mon aimé, peço que me desculpe por ser tão romântica. A verdade é que sinto mesmo sua falta, e sinto tanto medo de nunca mais te ver, tanto medo de você ter realmente ido embora.Dentro desse quarto verde, olho para todos os cantos, procurando algo seu, procurando os teus braços para me confortar, e me sinto a pessoa mais incapaz do mundo, pois agora todos os sentimentos que me ocorrem formam poesias lindas, mas só consigo repetir seu nome: Clarissa, Clarissa.Se nadas paredes verdes não restou nem ao menos sue retrato, imagino então a sala, toda branca, será que restou seus sapatos altos? Seus livros do Kerouac? Seus enfeites importados?Clarissa, entenda que somente sai da frente do espelho porque precisava saber o que restou de você na casa, e que eu não voltei porque precisava encontrar qualquer coisa sua dentro do cinema, da lanchonete, do bar, do novo amante.Eu não achei nada que te pertencesse. Aquele filme do Hitchcock era preferência minha, o suco na lanchonete tinha o mesmo gosto agradável do “antes – de - você”, de “durante-você” e que teria também “depois-de-você”, e no bar, Clarissa, encontrei as músicas que ouvi a vida toda sem você, encontrei bebidas que já eram charmosas antes mesmo de eu te conhecer, e o novo amante, minha querida, foi escolhido a dedo para eu poder projetar toda a alegria que resgato da juventude, dos sonhos de criança, que não permiti que se mofassem antes das tentativas. E sabe, Clarissa, no espelho ficará eternamente projetado o conformismo de um grande amor perdido, e nos novos amantes (que terão muitos, para mim e para você) projetarei apenas seus sorrisos, Clarissa, você não sabe o quanto é linda quando sorri.

Um comentário:

Anônimo disse...

COMO É BOM SER CLARISSA...