abril 29, 2012

Retrato calado.

Chegar em casa e não te ver,
e tentar não acreditar que a última vez que te vi foi a última vez que te vi.
Os passos menos apressados que o olhar,
mas se atenta nas esquinas, receando que aquela pode ser a última esquina que você passou.
Sempre com medo, consumindo por dentro,
eu não sei até quando você vai aguentar,
sei que mesmo em seus sorrisos, suas andanças,
já não há mais caminhos que te levam a algum lugar.

Então é isso, covardemente não desiste, mas já não tenta,
e eu não sei mais que tipo de sofrimento é esse.

Não sei se a noite você chora calada pedindo a algum deus que te leve, que te salve, que te diga o que fazer,
ou se já esvaziou completamente a mente porque nem pensar mais vale a pena.

Livre de dor, como nunca esteve,
o sonho mais simples, mais barato, mais comum, banal,
e já não vale mais a pena.

Eu vou sofrer cada segundo junto da sua dor ou da sua indiferença,
compartilhando da sua fraqueza, da sua covardia.

Mas não, minha vida não será o sofrimento que fez da tua,
meus passos não serão à esmo,
meus olhos não vão se esvaziar de esperança,
meu corpo não vai desmoronar na cama,
nem minha mente estagnar vendo televisão,
Não fui o fruto dos teus sonhos,
Não fui o inverso de tuas frustrações,
nem tampouco serei a continuidade infeliz da tua existência.

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